29/09/2014

Calmaria paralisante

De Celso Nascimento, Gazeta do Povo:

A quarta pesquisa Datafolha/RPCTV*, divulgada na sexta-feira, veio apenas para confirmar a calmaria em que navegam as candidaturas ao governo do estado. Os três primeiros colocados mantiveram-se absolutamente estáveis em relação às sondagens mais recentes. Nem mesmo a margem de erro de três pontos porcentuais foi alcançada: Beto Richa, que marcava o índice de 44% há dez dias, subiu agora para 45%, enquanto que Roberto Requião e Gleisi Hoffmann mantiveram-se nos mesmos patamares de 30% e 10%, respectivamente.

A calmaria é quase semelhante àquela enfrentada pelo navegador português que, nos fins do século 15, encarregado pelo rei de descobrir um novo caminho marítimo para as Índias, ficou dias à deriva na costa africana por falta de ventos que enfunassem as velas de suas precárias naus e as fizesse contornar o Cabo Verde. Os marujos já não suportavam o sol que lhes fritava o coco e temiam pela falta de comida que estava acabando.
Pois é isto: faltam ventos novos e mais fortes na campanha de 2014 para mudar o curso da história já contada por todas as pesquisas eleitorais conhecidas até aqui. Embora à frente de todas, a caravela de Richa mantém-se praticamente no mesmo lugar – aparentemente, no entanto, inalcançável pelos companheiros que também tentam contornar as adversidades para conquistar o Palácio Iguaçu.
A eleição será no próximo domingo, mas não há previsões meteorológicas que indiquem a possibilidade de ventanias capazes de modificar a velocidade ou o curso das caravelas eleitorais. O que significa que a decisão final dos paranaenses tende a se dar já no primeiro turno. Somadas as intenções favoráveis a Requião, Gleisi e ao único nanico que pontuou 1% (Ogier Buchi), tem-se um total de 41% – uma diferença de quatro pontos porcentuais em relação aos 45% cravados por Beto Richa.
Claro que não se deve desconsiderar a margem de erro admitida pelo Datafolha, de 3 pontos porcentuais para mais ou para menos, mas seria no mínimo um fato inusitado se ela favorecesse apenas os últimos colocados e, inversamente, reduzisse a taxa somente do primeiro. Só mesmo uma misteriosa intervenção do Sobrenatural de Almeida – ente criado por Nelson Rodrigues para explicar resultados futebolísticos inexplicáveis – para levar a decisão para o segundo turno.
Outra situação que é preciso deixar claro: pesquisas não são infalíveis. Multiplicam-se os exemplos de que erram, e às vezes por larga distância. O último grande exemplo da falibilidade dos institutos deu-se em Curitiba, em 2012. Na última semana antes da eleição, Gustavo Fruet ainda penava um modesto terceiro lugar frente aos adversários Ratinho Jr., em primeiro, e Luciano Ducci, em segundo. A “boca de urna” também errou ao manter Fruet na rabeira. Todavia, o conteúdo das urnas, influenciadas talvez pelo Sobrenatural de Almeida, mostrou outra realidade: Gustavo tirou Ducci do páreo e, no segundo turno, venceu Ratinho Jr. por 60% a 40%.
Requião, que um dia já se disse disposto a se aliar até com o demônio para ganhar uma eleição, promete encarnar o Sobrenatural nesta segunda-feira. A tal “bala de prata” que diz que vai disparar no programa eleitoral tiraria a campanha da calmaria a ponto de provocar um resultado eleitoral contrário a todas as previsões. Como o senador é mais conhecido pelas bravatas do que pelo apego à verdade, o normal é esperar muito pouco dos seus próprios ventos.

Postar um comentário

O botão Whatsapp funciona apenas em dispositivos móveis

Comece a digitar e pressione Enter para pesquisar